09 setembro 2006

Sonho de Louco

Como dói mergulhar no mundo fragmentado, esplodido e ensanguentado de um Louco e Ainda ser capaz de entender cada vírgula, cada pausa, cada gemido de dor.
Tudo começou quando li, não a Li me chamou e disse: Se quiser fazer teatro, é só me falar.
Perdida no tempo, gorda, cansada, rouca eu fui. Conheci o Louco e aí sim que tudo começou.
Não acreditava Ainda na volta, mas lia e brincava de ser verdade. Não tinha entendido Ainda tudo, claro, encadeado, mas suava os desejos de um Louco, por ele, por ela (O Louco e sua mulher, não a musa)
Faltava Ainda a viabilidade. Uma festa frustrante nos embebedou a todos e dissemos que Ainda era possível fazer a vontade do Louco.
Depois daquilo um recomeço, sem madeira nem papel e tinta, sem roupas nem sapatos. Ajuda Ainda não tinha, mas a voz já soava alta e os jogos do Louco eram mais nítidos pra mim.
Veio a ajuda, outras tantas ajudas foram pagas que generosidade tem seu preço, sempre. E a imagem do Louco ficou pronta. Fora do lugar, Ainda isso, como levar o sonho do Louco pro lugar que era certo? (Errado, lugar errado, que seja, porra!!!!) E mais generosidade paga em prestações.
Chegou, é aqui, mas não era assim que a gente tinha sonhado! No papel, assinado pelo Louco, empenhando seu nome e salários que não tinha, não estava escrito que tinha que ser como foi sonhado. – “Fodam-se vocês todos! Que pra fazer pêça, tem que investir... hahahaha”
E o Louco e seu sonho deram as caras a primeira vez (Chama-se estréia, bom que se diga). Uma bosta, erros, escuro, cigarro apagado na única hora que devia não estar, vinho derramado, outro esquecido e Ainda a televisão que não devia estar, mas estava, devia ser lembrada e não foi (Erro meu porra! Também quem manda o Louco me deixar sozinha pra fazer e desfazer todo seu sonho depois de tanto tempo longe?) Ah... esqueci, não de falar desta vez, esqueci de dizer agora que Ainda perdi a cabeça pra fora da luz (Perdoa essa atriz que nunca esteve em foco, por não saber que pra ter cabeça tem que ter luz, perdoa vai, ensina...)
E o primeiro delírio do Louco aconteceu diante duns olhos amigos, medrosos das nossas cagadas, mas muito entusiasmados de ver a brincadeira.
Até um par de olhos viu mais do que o Louco escreveu e quis chegar mais perto, pediu e-mail e hoje olha de pertinho, ora vejam! Obrigada, Louco, tenho que te agradecer muito por isso!
Mas o lugar que era errado espantou, confundiu, deu preguiça e ninguém mais viu a gente brincar.
Agora sobrou um último tanto de generosidade pra gente pagar.
Ainda podemos tentar de novo...
Ainda vamos fazer bonito...
Ainda acreditamos nesse jogo... Nem todos, né.
E eu vi o Louco chorar de dor, por uma página branca que um dia ele teve coragem de riscar.

(Te amo Claudio, culpa da Li)

3 comentários:

Marla de Queiroz disse...

Já viu o tamanho das folhas que as formiguinhas conseguem carregar???
Queria te oferecer uma música agora, mas não lembro o nome.
E no tarô do Osho, o Louco é aquele que salta no desconhecido e às vezes se estabaca todo, mas nunca perde a confiança...É aquele que continua cheio de inocência, não de ingenuidade.
Encara qualquer abismo.
Boa sorte.
Mais um passo.
Beijos.

Alissandra Rocha disse...

Bom, menina! Nunca vou esquecer o encontro no centro cultural, quando vc foi cheia de esperança e eu te deu todo alimento que vc precisava. Depois de dividirmos um pedaço de pão na faculdade, divimos um espaço num banner, seu nome e o meu... Ainda temos uma promessa de dividirmos um palco... e isso será lindo!

Sabe, um dia, num passado bem sombrio, escuro mesmo, eu fiz algo terrível, numa clínica... mas tive que fazer, foi frio e calculado, mas nem menos doido. E não chorei. Segurei a onda, tive pesadelos terríveis com choro de bebês... Mas segurei e não chorei. Eu disse que quando eu tiver um filho, talvez eu chore pelo que aconteceu. E isso está acontecendo de novo. Quando a peça realmente acontecer, talvez eu não me aguente e chore! Assim espero... estou com um mundo entalado na garganta!

Anônimo disse...

Marcia, não sei bem o que dizer, nem a você que foi se tornando tão rápido uma velha amiga, nem ao Cláudio com quem conversei tão pouco mas pressinto um grande amigo, nem para a Alissandra - que salvo melhor juízo - acho que foi quem me colocou nesta pequena rede de grandes contatos que, pressinto, tenha alguma finalidade e sentido.
Qualquer coisa que eu diga não irá reduzir este sentimento de vocês no momento difícil, nem saldar as prestações do sonho interrompido.
Se não me calo já que nada posso dizer é porque tenho esta mania de ser prolixo. Só me ocorre uma frase que sempre digo:
"Loucos são os outros"