25 julho 2007

Chorei na livraria

Faz poucos dias. Eu sabia o motivo e tinha até os bolsos cheios de outros porquês caso fosse confrontada com o ridículo de uma frase feita ou qualquer lugar comum que me rotulasse como mulher madura em crise existencial. Fato. Não tinha como escapar então só pedi pra não tentar me emocionar enquanto eu não fosse capaz de controlar os impulsos. Naquela mesma tarde, já no cinema, o filme era tão ruim que piorou minha sensação de inadequação. A melhor parte foi quando saímos da sala e conversamos sobre tantos outros finais possíveis, qualquer um deles menos óbvio, mais rico, lógico e surpreendente, chegando a idealizar uma reviravolta com o vilão saindo ileso com seu sorrisinho sarcástico - a bem da verdade muito mais realista no nosso mundo. Boa distração para meus muxoxos mas definitivamente não me tirou da linha de auto-tortura canceriana de relembrar sempre os motivos de não estar completamente feliz.

O pobre leitor já deve estar entediado por tanto prólogo sem o devido encaminhamento e explicação do que afinal me fez chorar, mas lamento, não vou contar.

Eu deveria, pelo bom manual de redação, cortar dois terços da embromação acima e começar a dar forma, estruturar e embasar uma idéia, defender um argumento ou, pelo menos, me contrapor com clareza a uns outros já consagrados. Poderia também escrever uma crônica aberta e deixar cada leitor com sua imaginação. Poderia muitas coisas se de fato tivesse nesse momento alguma inclinação para seguir o manual, ou um maior domínio sobre ele e - este dado é importante - como nunca fui bem educada para a escrita, tendo sido aluna de números no melhor momento da adolescência nunca dei muita atenção àquelas regras, por isso recorro aos meus equívocos educacionais para mandar às favas a correção e a coerção e pedir licença a quem lê só pra dizer que chorei na livraria. Ponto final.

29 março 2007

Bilhetinho de geladeira

Não é querendo estar na contramão das desilusões, mas estava em casa, aferindo a precisão do relógio e nem a voz no telefone tinha o mesmo efeito que vasculhar as palavras à espera de uma surpresa.

(Repetindo baixinho com um leve sorriso)
- Não leio entrelinhas, dissolvo-me no contexto...

Voltando à inconsistência da desilusão, há sim o lugar comum das mentes ocupadas em sempre fazer menos, matar o tempo, subsistir alheias ao sonho e a troca de saberes. Vidas sem gosto, no sentido literal mesmo. Insossas, sem sabor. Lamentável, concordo, mas não contagiante. (Lembrei do Zeca Baleiro cantando a Criatividade de Deus. Ora, veja!)

(Agora, um sorriso largo, daqueles de fazer covinhas.)

Não quero falar de ter que ter esperança. Escreve. É só o que peço. Depois eu sussurro no teu ouvido a minha tradução.

16 março 2007

Pensar com as emoções, sentir com o pensamento

Há dias de objetividade, em que tudo o que foi previsto, planejado, acordado, costurado, tem vez de solenidade e espaço na mídia. Outros são de litros de café, velhas idéias de roupa nova, insights e longas horas sonhando paz, justiça, liberdade e respeito.
Os dois momentos, do sensível e do prático, do devaneio e da lógica, se misturam e confundem, às vezes duelam por quem será prioritário a cada instante, pra logo depois ceder energia, suor, conexões mentais no caminho paralelo que equilibra o anterior.
Não acredito em objetivos sem fé, nem contemplação que não retesa os músculos. E se há a vocação, se há o chamado, e eles acendem o desejo de tornar reais os projetos de uma vida, que se faça com paixão para o bem de todos e cada um.
(nota: Do kurts conheço muito mais a lenda, escuto as histórias, percebo os sinais. De você, meu querido, vejo o brilho dos olhos, me entusiasmo pela luta e enterneço por esta bela amizade.).

08 março 2007

Dia Internacional da Mulher, sim!

Só não pode virar dia de presentinho.
Tem que se lembrar, e contar pros outros, e fazer cara feia diante das piadinhas bestas, e arrancar arrepios contando porque o símbolo da luta é um pano lilás.
Tem sim que fazer do dia de homenagem o dia do desconforto, respondendo a cada parabéns com um soco bem dado no estômago, chamando pra briga e dizendo que hoje é dia de lembrar da mulher de unhas sem pintura, de cabelos ressecados, de peitos caídos já sem leite, do sangue aguado que se pudesse diluir mais um pouquinho, fazia uma sopa pra encher as barrigas dos filhos que insistem em querer comer.
Ninguém me tira esse direito de gritar que em briga de marido e mulher todo mundo tem dever de se meter, SIM. Como? Não virando os olhos, não tapando os ouvidos, não calando a voz amiga que ampara, aconselha e dá força quando a colega já sofreu tanto que deixou de acreditar que tem direito de viver sem dor, seja física, psíquica ou moral.
Não é pra isso que se marcou de roxinho esse dia do calendário? Então vamos aproveitar e levar pro resto do ano, tanto a gana na luta pela dignidade, quanto a esperança de libertar as Marias da Penha desse choro abafado que não cessa atrás das quatro paredes.

02 março 2007

Nostalgia das próximas horas

O meu relógio marcava exatamente meia noite quando senti que não podia mais parar...
É esse o efeito um tanto alucinógeno que busco na madrugada sem tua presença.
Despedidas sofridas, aquela saudade imensa de toda uma vida que ainda se tem pela frente. E eu me lanço no mar, navego na tua história, te procuro nas citações precisas e na dualidade sempre urgente de entendimento.
O que eu procurava, remexendo teus escritos? De verdade, era aquele momento em que, displicente, ofereci carinhos a um escritor e seus djins, sem imaginar que você me tomaria nos braços um dia.
Eu adoraria roubar uma das histórias das mil e uma noites e dizer que dormi por toda a vida até que um djin me deixasse à tua porta, mas não é verdade. Foi sim a minha vontade de desvendar quem de vocês me encantava mais que me aproximou, fez vencer as brumas, e com os olhos ainda ofuscados das maravilhas do outro lado da ponte, perceber que é aqui, deste lado onde você está, que eu quero ficar.

17 dezembro 2006

Olhando para o céu.

Não sei roubar no jogo da sensibilidade. Na verdade acho até que não sou eu quem joga, sou só uma pecinha, variável às vezes insignificante que se entrega às regras do jogo e deixa rolar pro que der e vier.
Uma vez ele leu pra mim uns trechos de seu trânsito astral e achei graça porque falava tudo com tanta perfeição, com as palavras certas, e os personagens eram tão nítidos que jurei que ele inventava tudo aquilo. Foi engraçado quando pude ler por mim mesma e descobri que o tal programa de sinastrias, coisa e tal, nos conhecia de fato e não estava pra brincadeira.
Pela primeira vez em muito, muito, muito tempo, sinto-me segura e feliz. Descubro todos os dias uma saudade imensa de tudo que tenho pra viver, uma linda nostalgia do futuro que se renova em cada despedida e se me impulsiona ciclicamente, dia após dia, tão certo como o nascer do Sol.
Não tenho saudade do sonho, vivo a realidade.
Amo.

31 outubro 2006

Ronaldo

Meu querido, como doeu ficar tão longe... Nem tua nova casa eu conheci ainda. Não te dei meu abraço de mãe na hora mais delicada, nem te lembrei da longa vida pra viver valendo muito mais que qualquer momento de sono.
Acho mesmo que me afastei dos sonhos virtuais tentando me estruturar no emprego novo. Sabe, andei fugindo, parei de escrever, um pouco por falta de tempo, mas principalmente pra acostumar o corpo e não instigar a alma pra continuar trilhando as belezas e prazeres que estão sempre tão longe da dura realidade que me envolve.
Estou com saudades, meu querido. De você, do que tuas palavras me inspiravam sempre, saudade da intensidade das paixões irrealizáveis. Sinto falta de partilhar os sabores que só a madrugada traduz. É verdade, sinto saudades de você e de tudo e do pouco que pude conhecer te lendo.
Cuide-se meu poeta. Mantenha o ar fluindo, o sangue regando os desejos, as palavras explodindo pra quem passar perto lembrar também de querer amar. Cuide do corpo pra que a tua alma inquieta e apaixonante continue sempre a cada vez mais, nutrindo quem tiver a sorte de te olhar.
Grande beijo, da atriz.

09 outubro 2006

Depois de assistir à peça de Johhny Cagyn

Também tenho momentos e fases significativos em minha vida. Acredito que todos tenham. Mergulhar no Indispensável Exercício Sobre o Nada me fez refletir sobre o que aprendi até hoje sobre amor e medo.
Não fui menina namoradeira, na verdade meus óculos e as pilhas de livros me fizeram passar despercebida na adolescência. Não o suficiente pra me proteger da dor, de amar e errar. Na verdade não era desejada, mas amava. Era admirada pelo inusitado da timidez extrema contrastando com a expressividade. Quantas vezes sentada ao lado de um garoto nos trabalhos escolares eu desejei ser outro corpo que fosse capaz de provocar distração, erros, advertências, quando tudo o que conseguia era ser garantia de uma boa nota ao felizardo que dividisse comigo um seminário na aula de química. Verdade. Antes de aprender o medo de amar tirei diploma em solidão.
Segui o rio, beijei a primeira vez, transei a primeira vez, tive dúvidas, senti culpa, fiz teste de farmácia, chorei no banheiro. Segui o rio.
Ainda sem medo encontrei um amor. Alguém que via além dos óculos e livros. Ainda mais tímido que eu, ainda menos apto ao sofrimento, ainda mais solitário. Com ele acreditei na arte e fui brincar de ser atriz, depois levar a sério, aprender o ofício de ser musa pra apenas um par de olhos. Mergulhei fundo e amei além da conta, do nexo, do possível, do admissível. Cultivei sonhos e construí perspectivas baseadas numa reviravolta do destino. Fiz um filho, comprei um anel, botei no papel. Foi amor sim, daqueles de novela, de se rasgar a fantasia de porta-bandeira em nome do grande amor. Um erro, não pelo amor, por amar, por ele... Minha maior lição a caminho do medo: O amor não muda as pessoas. Beijei a última vez, transei a última vez, tive dúvidas, senti culpa, fiz teste de farmácia, chorei no banheiro. Virei a página.
Os anos passaram. Amortecimento. Um flerte, paquera virtual revelou o medo dominando minhas horas. Olhei pela fresta, abri a janela e o argonauta de sonhos botou diante de mim um espelho. Espantada com a cor dos meus olhos emoldurados de novas e insistentes rugas, nem percebi que ele vinha de passagem. Brincou com o medo, desafiou o destino e se foi. Mas deixou a janela aberta...
Outros também sorriram e calaram. Bocas, mãos, suores e alguma saudade caprichosamente guardada a espera de outro beijo. Mas não amor.
Os olhos tristes me lembraram da vida real, foram a transição do amor idealizado ao exercício efetivo da solidão, autêntica, bruta, mas verdadeira. Ele se foi, pra nunca mais, pra bem melhor e pela primeira vez lamentei o beijo que não foi dado. Não o culpo pela saudade que ficou.
Tentei ainda mais uma vez a proteção do sonho, carregado de promessas. Um ser alado percorreu minhas noites, preencheu minha alma. Cobrou obediência e entrega, paixão, luxúria, fantasias intermináveis de nunca se realizar, testou meus limites, quebrou meu espelho e com meus dedos feridos dos cacos lembrei de novo do medo. Assim como veio impondo realidades, partiu para seus próprios sonhos. Em troca me provou que os espelhos em que me via eram pequenos. Hoje me conheço mais.
Decidida a fincar os pés no chão, fui pega numa armadilha. Nas luzes coloridas, fumaça azulada, brincadeira sagrada dos deuses senti que a realidade é muito mais sensível ao tato e à perda, mais instigante no jogo da conquista e mais dolorosa no desprezo. Era tanto desejo que virou promessa de não dar certo. Difícil entender? Ora, qualquer um pode ter medo de amar. (Nestas horas ainda é melhor a utopia que o fato).
Sempre tantas horas de espera, sempre tanta tristeza de não se saber o fim, e finalmente dei uma volta no destino. Foram nas palavras, (escritores, ai escritores!) que ele confessou um olhar tímido, de desejo. Eu confessei um respeito calculado, a admiração, o desejo enfim. E nossas bocas seguiram confessando pecados já sabidos, e os corpos como prova nos desnudaram a vontade de rir do destino. Ainda há névoas que turvam meus olhos, sensação de quase cair e necessidade de respeitar o medo. Mas nada esconde os eclipses.
Numa reflexão muito breve e em nada definitiva, conclui que tenho medo de amar, sim. Amar uma entrega, um sofrimento de bem querer, uma vontade de mudar o mundo, uma paixão de sair do prumo. Tenho medo. Mas quero. E vou.


Serviço da peça Indispensável Exercício sobre o nada.

A música "Eleanor Rigby" é a matriz da peça "Indispensável Exercício Sobre o Nada" que está em cartaz em São Paulo. A peça, inspirada pela canção de McCartney e Lennon, acontece em um casarão onde o público (a lotação é de apenas 30 pessoas) acompanha a encenação por 4 ambientes, sempre muito próximo, sempre muito íntimo das situações vividas pelos atores em cena.

SINOPSE DA PEÇA:
Eleanor atropela um desconhecido e, após socorrê-lo, descobre que ele perdeu a memória. Os dois se apaixonam, porém a identidade deste desconhecido revela-se um problema para a relação.
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Texto e Direção: Johnny Kagyn
Com: Geovane Fermac e Kalina Svidevska
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Quintas ás 21h
CASARÃO DO BELVEDERE

Rua Pedroso, 267 (metrô São Joaquim)
Informações e Reservas: (11)3266-5272
reservas@casaraodobelvedere.com.br
Ingressos: R$10,00 a R$20,00

23 setembro 2006

Velhos, novos tempos

E tanto se fêz a feminização do mundo, tanto se proclamou o hedonismo, mas a mulher continua olhando com o canto dos olhos e escondendo na gola da blusa as marcas da última paixão.

Para a amiga cigarra

Adoro a virtualidade que me trouxe pra perto de você. Odeio também porque nessa hora só um abraço poderia explicar o carinho que sinto, a disponibilidade pra te ouvir rasgando o peito e vertendo canções. Se estivesse mais perto, talvez te procurasse fingindo entender a pequenez do mundo e me mostrasse amiga irmã pra te consolar, mas no fundo era só pretexto pra ganhar colo e chorar junto tudo que não nos cabe e persiste em forçar as paredes no coração.

Força, menina. Aí dentro têm espaço pra muito mais alegrias.

Hoje vou rezar um brigadeiro em tua homenagem.