23 setembro 2006

Velhos, novos tempos

E tanto se fêz a feminização do mundo, tanto se proclamou o hedonismo, mas a mulher continua olhando com o canto dos olhos e escondendo na gola da blusa as marcas da última paixão.

Para a amiga cigarra

Adoro a virtualidade que me trouxe pra perto de você. Odeio também porque nessa hora só um abraço poderia explicar o carinho que sinto, a disponibilidade pra te ouvir rasgando o peito e vertendo canções. Se estivesse mais perto, talvez te procurasse fingindo entender a pequenez do mundo e me mostrasse amiga irmã pra te consolar, mas no fundo era só pretexto pra ganhar colo e chorar junto tudo que não nos cabe e persiste em forçar as paredes no coração.

Força, menina. Aí dentro têm espaço pra muito mais alegrias.

Hoje vou rezar um brigadeiro em tua homenagem.

15 setembro 2006

Solidão segundo Mário

Fiquei olhando pra tela do computador, morrendo de sono, esperando ele chegar pra me dizer como foi o espetáculo de hoje, mandar um beijo e dizer boa noite. Ele veio, a peça foi boa, e o peso do cansaço dos dois precipitou os beijos de boa noite no msn em poucos minutos. Desliguei lá e fui passear nos blogs, li de novo o que ele me escreveu na sua página, cliquei num link e acabei chegando aqui.
Senti cada sim e não do teu belíssimo texto e me deu uma puta vontade de desligar o computador e ir lá pra casa dele... E eu nem estava pensando em falar de solidão no comentário.

09 setembro 2006

Liberdade de querer o não - Heresia apaixonada

No caleidoscópio de versos, meus olhos se perderam.
Tanto amor, tanto, tanto... E a liberdade pontuando a rima que só os apaixonados sabem ler.
Fui presa de uma verdade, emoldurada por Pessoa:

"Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre."

Sim, percebo agora.
O que fazer se o que eu nem imaginava querer é hoje o que me preenche a alma e obriga a questionar se Deus nos deu o livre arbítrio por amor ou por rancor das bocas, que muito além da prece, encontram no beijo a expressão mais próxima de felicidade.

Sonho de Louco

Como dói mergulhar no mundo fragmentado, esplodido e ensanguentado de um Louco e Ainda ser capaz de entender cada vírgula, cada pausa, cada gemido de dor.
Tudo começou quando li, não a Li me chamou e disse: Se quiser fazer teatro, é só me falar.
Perdida no tempo, gorda, cansada, rouca eu fui. Conheci o Louco e aí sim que tudo começou.
Não acreditava Ainda na volta, mas lia e brincava de ser verdade. Não tinha entendido Ainda tudo, claro, encadeado, mas suava os desejos de um Louco, por ele, por ela (O Louco e sua mulher, não a musa)
Faltava Ainda a viabilidade. Uma festa frustrante nos embebedou a todos e dissemos que Ainda era possível fazer a vontade do Louco.
Depois daquilo um recomeço, sem madeira nem papel e tinta, sem roupas nem sapatos. Ajuda Ainda não tinha, mas a voz já soava alta e os jogos do Louco eram mais nítidos pra mim.
Veio a ajuda, outras tantas ajudas foram pagas que generosidade tem seu preço, sempre. E a imagem do Louco ficou pronta. Fora do lugar, Ainda isso, como levar o sonho do Louco pro lugar que era certo? (Errado, lugar errado, que seja, porra!!!!) E mais generosidade paga em prestações.
Chegou, é aqui, mas não era assim que a gente tinha sonhado! No papel, assinado pelo Louco, empenhando seu nome e salários que não tinha, não estava escrito que tinha que ser como foi sonhado. – “Fodam-se vocês todos! Que pra fazer pêça, tem que investir... hahahaha”
E o Louco e seu sonho deram as caras a primeira vez (Chama-se estréia, bom que se diga). Uma bosta, erros, escuro, cigarro apagado na única hora que devia não estar, vinho derramado, outro esquecido e Ainda a televisão que não devia estar, mas estava, devia ser lembrada e não foi (Erro meu porra! Também quem manda o Louco me deixar sozinha pra fazer e desfazer todo seu sonho depois de tanto tempo longe?) Ah... esqueci, não de falar desta vez, esqueci de dizer agora que Ainda perdi a cabeça pra fora da luz (Perdoa essa atriz que nunca esteve em foco, por não saber que pra ter cabeça tem que ter luz, perdoa vai, ensina...)
E o primeiro delírio do Louco aconteceu diante duns olhos amigos, medrosos das nossas cagadas, mas muito entusiasmados de ver a brincadeira.
Até um par de olhos viu mais do que o Louco escreveu e quis chegar mais perto, pediu e-mail e hoje olha de pertinho, ora vejam! Obrigada, Louco, tenho que te agradecer muito por isso!
Mas o lugar que era errado espantou, confundiu, deu preguiça e ninguém mais viu a gente brincar.
Agora sobrou um último tanto de generosidade pra gente pagar.
Ainda podemos tentar de novo...
Ainda vamos fazer bonito...
Ainda acreditamos nesse jogo... Nem todos, né.
E eu vi o Louco chorar de dor, por uma página branca que um dia ele teve coragem de riscar.

(Te amo Claudio, culpa da Li)

Anotações na margem

Tenho medo de olhar, acreditar, e assumir que amar de novo estava fora dos planos.

O prazer deveria ser poesia concreta, acabada em versos curtos, gozadas rápidas sem vírgula nem ponto final. Três pontinhos pra deixar a história com ares de inacabada ou eterna.

Por que o medo? De que?
- Do tempo.

Só os grandes clássicos são relidos sempre e a qualquer momento transformadores. Trágicos e definitivos.

O tempo assina meu bilhete homicida, de sensações e sentimentos. Ele que marca a carne dia após dia, murcha os seios, deforma o ventre, seca o desejo.

Quem sabe um conto, curto, erótico, belo e estéril, pra contar a novidade da conquista e só!

Dois relógios, duas eras, que num hoje iluminado de gelatinas coloridas e fumaça de cigarros acabaram se olhando pra contar minutos de espera.

Dois textos traçados de palavras e vontades. Jogos poéticos e um que de sem estilo (olhos de admiração não lêem rimas).

Ainda não crê no meu medo, no tempo? Há um único segundo sincrônico nas duas estrofes. Descobre qual é, te desafio...

O esquecimento. O adeus.

Primeiro reflexo de olhos reais (Puro & Depravado)

Tudo é ciclo.
Nascer, crescer, amar, desamar, esquecer...
Sim, certas coisas nunca mudam.
Mas há amores que persistem além do tempo.
Sabores impregnando lençóis, cheiros vívidos na madeira, memória, da cama, gemidos e gritos entranhados nas paredes, restos de prazeres trêmulos, arfantes, dissonantes e roucos, gotejados pelo chão.
Não há fim.
Contrário à paixão é o esquecimento.
O ódio intumesce o tempo; o sangue lateja, penetra na alma ferida, aberta, e fecunda as raízes da dor que não se pode apagar.

04 setembro 2006

Refletindo outras imagens

Lembro que contei um dia, de um amigo que escrevia um post pra cada paquera dele no blog.
Sempre me diverti muito com isso, deixava comentários nas postagens, sem queimar o filme dele é claro, mas escrevia minhas imagens poéticas a partir das cantadas recebidas por outras mulheres.
Sabe o que é curioso? Re-li o blog dele outro dia e percebi que as musas nunca diziam mais do que algumas palavrinhas como lindo... obrigada...
O que há com o mundo? Porque as paixões não transbordam em letras e palavras depois uma linda declaração de amor?
Sei lá. Talvez a estranha seja eu.

03 setembro 2006

Trilha sonora

Melodia e poesia compõem a trilha sonora da vida. Algumas músicas ficam na memória e passam a interferir no enredo, fazendo juz ao conceito de melodrama.
Também tenho canções que traduzem minha história. Uma delas, neste momento, serpenteia em minha mente e não me deixa esquecer a verdade. Não vou cantar aqui. Haverá sempre tempo e lugar para os acordes dissonantes.

01 setembro 2006

Roubando a cena

Eu bem que poderia buscar um trecho de Pessoa na voz do Caieiro pra falar da paz e inquietude de ler um texto teu. Ou roubar um verso de algum poeta jovem e louco que traduzisse em melodia o quadro que me salta aos olhos, de paisagem bucólica e rebanhos levados pelo vento. Não seria Lobão o nosso guardador de rebanhos afinal? Curiosa a mágica das palavras: Veio o vento e te levou...
Não vou roubar nenhum poeta desta vez. Relembro um verso original, se quiser te empresto pro teu momento de escuridão:
Não há espelhos no tempo que distorçam minha verdade.