29 junho 2006

Mire-se

  • T., querida!
Você está certa em olhar no teu espelho de alma e deixar de lado as pinturas toscas que tentam inventar cores e impressões que você de fato não tem.
Mas não resisto a me colocar na tua frente como uma tigela de barro cheia de água onde você também pode se espiar.
Tua imagem vai parecer um pouco distante, misturada a cor de terra no fundo, um pouco ondulada pela tua respiração próxima, mas ainda assim poderá ver teu reflexo. Linda, intensa, honesta, justa e apaixonante.
Depois você volta a falar com teu espelho e conta pra ele que tem alguns traços novos pra ele aprender a te mostrar.
Adoro-te.

28 junho 2006

Não quero acordar.

Acordar dos meus sonhos?
Será esse o destino dos amantes da madrugada, permanecer sempre num sono profundo de olhos abertos esperando a hora de viver?
Da noite pro dia me vi namorada, mas ainda a mulher dos sonhos de alguém. Eu disse sim? E o que eu deveria sentir agora? Do que estou fugindo afinal...
Perguntava ao céu gelado, repleto de luz, qual o próximo passo antes de fechar atrás de mim as portas do desejo poético, do beijo tantas vezes desenhado, das palavras apagadas por não se poder dizer (amor)... Chegou a hora de abandonar coerentemente o eterno romance (perfeito)?
A plena luz do dia me obrigava a fechar os olhos pra não ver a realidade, já tão perto de ser vida. O que eu via era meu corpo flutuando pra longe negando a certeza da solidão.
Da noite pro dia um convite declinado e o coração querendo lutar pelo impossível.
Novamente é noite e espero um telefonema que não virá, mas não consigo sentir tristeza. Logo vem a madrugada e poderei sonhar de novo.

26 junho 2006

É que somos mulheres, e amamos.

Sinto-me tão em casa dentro do teu sonho que chego a pensar que o amor é muito igual ao amor em todo lugar. Não é que eu queira diminuir, diluir, simplificar tua história, é que você traduz de um jeito tão lindo essa dor que eu fico pequenininha tentando inventar palavras diferentes pra dizer que sinto o mesmo.
Digo somente que tua saudade é mais bonita.

Aos amigos Alexandre, Hilal e seu djinn-writer

Só tenho a agradecer por este mundo paralelo que a louca tecnologia nos abriu. Poder te conhecer e também te perceber em momentos de diálogo interior, prazeirosamente dividos com outros tantos loucos virtuais, é realmente uma bênção pós moderna. A partir de agora vou te ler com outros olhos e brincar de ouvir tuas vozes misturadas aos meus próprios delírios.
Mando um beijo, um abraço e um cheiro... Decidam entre vocês a divisão dos carinhos!

25 junho 2006

Beijo maldito

Canalha, depravado, sensual e beija.
Prefiro assim. Cafajestão mesmo. Boca aberta e língua. Só.
Se cala, brinca, lambe, chupa, vira, morde, invade e ri!

Estúpida aquela outra boca saborosa e curiosa.
Maldito?
Disse pobrema.

Amigo do amigo distante

Não conheci o Julio. Não te conheço também. Não conheço nada desses dos pequenos universos que reproduzem o grande cosmos com expansões de energia, calor, explosões pra depois tudo ruir num buraco negro que chamamos solidão.
Resta o vácuo, vazio de luz, o nada.

Fechei os olhos pra te ler melhor.

Verde, sabor e som.

Minha querida cigarra.
Quando eu for te visitar vou te achar pela casa das plantas que cantam!
Mas quero te ouvir também... Então reúna quem gosta violão, comida caseira e cerveja. Os artístas frustrados, poetas insones e pais e mães de crianças saudáveis! Os pequenos brincam, a gente cozinha e quando a garotada cansar começamos nossas brincadeiras.
Estou carente, quero colo, cafuné, paparico. Um falso amor de fim de semana pode até cair bem.
Beijos...

Ao poeta da madrugada

Perto do recomeço

Eu leria tudo o que deixei pra trás antes de te dizer uma palavra. Buscaria o ponto em que não me despedi pra recomeçar nosso caminho. Tentaria absorver tuas rimas me corrompendo o peito a ponto de soar algum acorde melódico, poético, não fútil. Viria pra te mostrar que te gosto muito e que minha ausência na tua vida de sonho dói e que tuas imagens me são caras porque falam diretamente à minha alma.
Mas li até a terceira página, buscando alento, tentando não chorar feito criança. Vim e encontrei dores mais poéticas do que suporta meu encanto medíocre.
Você é poeta e pode contar amores, sonhos, desencontros e porres. E encanta como sempre, me leva pela mão. Você poeta, me dê licença pra chorar no teu colo meus sonhos desfeitos até que um dia, amigos, nos encontremos pra beber todas as lágrimas que não fui capaz de escrever.

Filha da Terra

Ah, meu querido poeta...
Porque não te vi ontém, quando a esperança era o tom e o compasso da minha dança? Eu brincava de saltar de um poste a outro, e acreditava que voaria até o último degrau só por ser mulher e me doar por inteiro. Veio uma onda forte, lavou-me toda. Os cabelos molhados, escorridos nos ombros não dançavam mais com o vento. A roupa colada no corpo, longe de despertar desejos, evidenciava as marcas do tempo e da vida, do que se esconde aos olhos com um copo a mais de cerveja. Os pés molhados, ecorregavam num desequilíbrio patético, deixando-me agachada, agarrando o pequeno pedestal com as unhas mal pintadas.
Sim. Do alto de um altar de sonho, finjo ser a musa que entende e domina os tempos da Terra. Mas assim despenteada, não passo mesmo um grão de argila, e me curvo às pressões da grande mãe.

20 junho 2006

Erros certos

Li no dia certo.
O dia em que voltei a acreditar e enxuguei os olhos.
No momento em que a saudade já virava uma prece de bem querer, e a liberdade doía menos, eu li os teus erros e acertos.
Tentemos, R.! Sempre...

Beijo.

M., mulher!
Eu quase que me desfaço junto nesse beijo. E o meu corpo buscava o toque de um sonho aveludado e calmo, as asas de um anjo que fossem proteção e pecado.
Então abri os olhos e vi que a linguagem do amor é mesmo penumbra, e as mulheres são professoras de tradução.

Obrigada pelo carinho...

Cacau

Tu lês o mundo buscando o amor.
Desenhas com a ponta dos dedos.
É como o beijo da língua.
A mesma que beija e rouba o gosto do amor,
te serve e transforma saudade em poema.
A prosa encontra o conto
do que se sentiu sem ver.

O sempre melhor que antes e depois.

E da tua língua escrita,
as palavras de amor tem outros nomes.
Texto nascido da ponta dos dedos de carinho.
Palavras molhadas de orvalho da língua.

19 junho 2006

Capitu

A.!
Deliciosa a música lilás no teu mundo rosa.
Mas hoje estou azul.
Quanto mais amigos, flertes, sonhos e desejos virtuais, mais eu preciso da simplicidade e do anonimato de uma vidinha real.
Você é parte da melhor parte desta vida que eu quero.
(Vamos fazer aquela porra dar certo!!! Entrei pro time do tudo ou nada e não aceito sair de cena aos 32... preciso de você)
Te amo.
(Márcia)

Ao meu amigo.

J.
Hoje eu sou a escritora do lugar comum. Sem estilo, ou idéia relevante.
Vou dizer que passei boa parte da noite chorando por um amor irrealizável, que vi um filme e chorei sozinha no meu quarto, que assisti a um espetáculo de teatro que de tão lindo foi mágico e me fez rir, chorar e questionar meus sonhos e projetos (inclusive a pobreza do meu desempenho na peça que deve estrear em breve).
Não estou sendo lírica como você conhece, nem usando alguma figura de estilo pra realçar algo no texto. Sou eu falando com você. E poderia escrever por e-mail, mas preciso que fique resgistrado, então vou postar aqui, no lugar que tenho para os comentários, para as coisas que escrevo em resposta ao que leio.
Você sabe aquela montanha russa emocional à qual nos habituamos e achamos que é normal? Desde ontem comecei um mergulho e ainda estou chorando feito criança assustada. Exagero falar em choro tantas vezes num texto tão curto? Não, pois estou sendo literal e abusando do direito de me expor sem pensar nas conseqüências. Neste momento ainda choro. Fato.

Hoje acordei atrasada, evitei o espelho do banheiro que me faria cobranças, fumei dois cigarros seguidos sem nem pensar porquê, fui começar a trabalhar. Prometi a mim mesma não ligar a internet e com a determinação anulada pela falta de perspectivas, ou de auto-estima, foi a primeira coisa que fiz. Cheguei, liguei o msn, entrei no orkut. Eu procurava uma resposta que não veio, mas vi entre algumas mensagens, a tua intitulada Ultimo Informativo. Abri curiosa e tive um choque. Teimosamente cliquei em cada um dos links pra conferir e era verdade. Matas-te teus blogs. Então procurei no teu perfil de Bloguer um endereço novo. Não havia. O primeiro pensamento que tive foi que você estivesse com problemas, tivesse perdido o computador, ou não tivesse mais acesso à internet por falta de pagamento. Eu entenderia bem o último motivo, porque pra mim isso está bem perto de acontecer. Mas logo me deu raiva. Deixei de pensar nas tuas dificuldades e motivos, desejei nem saber de motivos, desejei que nem arquivos houvesse pra se consultar, desejei que você se perdesse no teu egoísmo.

Impossível negar que chorei de novo por não te entender. Chorei por mim, por sentir como uma perda pessoal inestimável como se fosse um amigo que mudasse de cidade sem deixar o endereço novo. Senti pena de mim por ser muito mais egoísta que você e querer a tua inspiração pra roubar pedacinhos e escrever meus poemas.
Mas não quero saber do motivo do bloguicídio. Talvez eu esteja completamente enganada e você ria do meu desabafo. Talvez eu nunca te entenda de verdade. Tudo o que eu queria era a tranqüilidade de poder te ver falando das tuas dores e dúvidas, grandes questões de vida e existência e desviar os olhos de dentro de mim onde agora está muito frio.
Porra J.!!!!
O teu silêncio repentino me obrigou a ouvir a minha voz.
O que eu ouvi? Não vou te contar.

13 junho 2006

A casa

Sentir-se em casa. É o sentimento que evoca a indefinição do poema.
Sentir-me em casa, seja ela qual for, ou a que for neste momento. Não a que me pariu, nem a das memórias puras de infância ou ideais de juventude... Estas eu deixei pra trás.
Falo da casa que habito e tenho que chamar de minha. Fora dela não tenho uma outra.
Derrubo fios de cabelos nos cantos e marcas de cigarro na madeira do assoalho como quem luta por deixar uma marca que a identifique, já que não é de fato um lar. Ela não é tão pequena que não me caiba, ou tão pouco iluminada que não brote um ramo de quebra-pedra, mas daí a ser minha carece de muita coisa ainda. Precisa de uma história que seja realmente minha, não plantada por outras mãos. Minha casa não tem portas. Minha consciência como o coração também se expõe desprotegida. Mas como disse, esta não é a minha velha casa da utopia. Que seja. É onde moro, como, durmo, sonho, e pra todos os efeitos, minha casa.

Lembrei dos meus 20 anos, quando achava a casa muito pequena. Lembrei de palavras de ordem e papéis, papéis, papéis, que eu preenchia, distribuía, escondia nos bolsos junto com aquele número de telefone caso algo desse errado. Papéis pelos quais eu punha a mão no fogo e hoje alimentam a fogueira dos que proclamam: Quanto pior melhor!!!!

Seja um universo de cidade, de casa, de alma, fazemos nossa morada, nos sujeitamos a ela, e vemos suas paredes descascarem... Até que seja hora de mudar.

06 junho 2006

22 - Para J. K.


Um dia, 21 anos
Tudo era muito
Muito era mais do que eu precisava,
mas ainda era o mundo que eu queria.
Acreditava, construía, reformava
O sino e a prece conduziam minhas escolhas,
eu ainda não sabia o que era moral.

Engolia moralidades e trepava na escada do apartamento.
Segura por amar e ser e sentir
descobria o desejo
aprendia a dor.
Amava.

Desprezo e uma barriga vazia.
Mergulhava numa louca espiral de saber meu corpo inútil.
Natural, menina mulher
guardava este desejo pra quem sabe nunca.
Resignada, sangrava...
No tempo, e de novo, e mais outra vez.

Eram figuras de sombras
que eu seguia em procissão
O grito, a marcha, bandeiras:
Paixão de vermelho!
Utopia de branco!
No peito a estrela.

De tantas palavras bem ditas,
um rosto de anjo,
alguma inquietude...
Me vi artista.
Queria negar a teoria das paralelas
e ser de duas vidas a mais poética.

Mas as paralelas
jamais se encontrariam.
Cega, eu amava e desfazia os planos.
Era A outra. Esquecida. Mulher sem vida.
A outra vida
que me era roubada.

Consentimento
Com sentimento

Não sabia que era impossível.
Romântica e prepotente.
Eu não sabia que era impossível.

Dançava em rodopios,
flutuava, não que fosse leve.
Carregava um bolsa imensa
repleta de tudo e todos,
e idolatrava aquelas alças frágeis,
que costurava com esmero.
Os dedos feridos da agulha
de não deixar nada nem ninguém pra trás.

Eu tinha já 21 e acreditava em ideais.
Eu tinha ainda 21 e caminhos não havia.
Eu jogava meus 21 e as regras eram injustas.

Eu fiz 22 e neste dia chorei de pressentimento.
Logo eu faço 32 e meu rosto ainda está molhado.