06 junho 2006

22 - Para J. K.


Um dia, 21 anos
Tudo era muito
Muito era mais do que eu precisava,
mas ainda era o mundo que eu queria.
Acreditava, construía, reformava
O sino e a prece conduziam minhas escolhas,
eu ainda não sabia o que era moral.

Engolia moralidades e trepava na escada do apartamento.
Segura por amar e ser e sentir
descobria o desejo
aprendia a dor.
Amava.

Desprezo e uma barriga vazia.
Mergulhava numa louca espiral de saber meu corpo inútil.
Natural, menina mulher
guardava este desejo pra quem sabe nunca.
Resignada, sangrava...
No tempo, e de novo, e mais outra vez.

Eram figuras de sombras
que eu seguia em procissão
O grito, a marcha, bandeiras:
Paixão de vermelho!
Utopia de branco!
No peito a estrela.

De tantas palavras bem ditas,
um rosto de anjo,
alguma inquietude...
Me vi artista.
Queria negar a teoria das paralelas
e ser de duas vidas a mais poética.

Mas as paralelas
jamais se encontrariam.
Cega, eu amava e desfazia os planos.
Era A outra. Esquecida. Mulher sem vida.
A outra vida
que me era roubada.

Consentimento
Com sentimento

Não sabia que era impossível.
Romântica e prepotente.
Eu não sabia que era impossível.

Dançava em rodopios,
flutuava, não que fosse leve.
Carregava um bolsa imensa
repleta de tudo e todos,
e idolatrava aquelas alças frágeis,
que costurava com esmero.
Os dedos feridos da agulha
de não deixar nada nem ninguém pra trás.

Eu tinha já 21 e acreditava em ideais.
Eu tinha ainda 21 e caminhos não havia.
Eu jogava meus 21 e as regras eram injustas.

Eu fiz 22 e neste dia chorei de pressentimento.
Logo eu faço 32 e meu rosto ainda está molhado.

8 comentários:

Alissandra Rocha disse...

Catso Mulher!!!!! Cada dia mais profunda!!!

To besta com isso!!!!

Os 32... bem, estou nos 28 e chorei hoje também... isso quer dizer que vou até os 32 me debulhar ainda????

Claudio Rosa disse...

PUTA QUE PARIU!!!!

Eu sei que não deveria começar o comentário no seu Blog assim, então serei mais formal como um dramaturgo diz por aí!

PUTA QUE ME PARIU!!!!!!

Fantástica (a poesia também)!!

Em RESPEITO me curvo.

Anônimo disse...

Márcia que delícia ler você. Coisa boa saber suas sensações e sentir a presença de Márcia...Olha..agende um dia inteiro para nossas conversas que deverão ser colocadas em dia e em pauta... Beijos

Anônimo disse...

No espelho dos seus olhos
me vi traduzida
menina, mulher
aos 21 (só um encontro)
aos 29... entre dois mundos
o casulo,
o jardim,
a ânsia pelo vôo!
Meu reflexo.

Simplesmente maravilhoso!!
Você está cada dia mais autêntica.

Beijo

Johnny Kagyn disse...

Rasga a estrutura de minha dor e cria teu lirismo. Este é o desejo de qualquer dramaturgo, o ator aprofundando sua dor. É uma honra ser o primeiro refletido...

Elenita Rodrigues disse...

Marcinha... seu texto me dói. É lindo.... e me deixa tão dentro de coisas que também sinto que.... me perco, me angustio.

"A poesia não é de quem escreve e sim de quem precisa dela."

Eu precisava.
Um beijo.

Anônimo disse...

Se é um novo blog, avise para eu mudar o link. O que houve com outro?
Se for este o novo, como dizem no teatro?: MERDA!
E cuide-se, menina de 32. Convide-nos para este aniversário.
Do seu fã. Sempre.
Lindo texto. Aos 21, nos tornamos "maiores de idade". Porém, talvez ainda nos falte a "sanidade". E insanos continuamos para toda a vida (pelo menos aqueles que são "artistas").
Ronaldo Faria

Marla de Queiroz disse...

Eita, moça, que pancada...