28 agosto 2006

Chuva e Terra

Visitei um oceano e dancei lembrando as minhas cantigas de ninar e as mamadeiras no meio da madrugada.


Sou muito água. Nos olhos, na pele, na boca, nos seios, no sexo, muita água e sentimento escorrendo sempre sem controle.
Quando criança também me ensinaram a não bater os pés no chão por querer o que não podia.

- Chora, mas não sapateia, dizia minha mãe.

Sem saber ela me formou uma fonte sempre jorrando, e me absorvendo na terra, ignorante da magia e da fecundidade de meu corpo de mulher.
Muito tempo fui garoa ininterrupta encharcando a terra, fazendo lama sem entender de sementes e brotos. Desfigurada, mole e amorfa, eu erodia meus sentidos.
Foi preciso crescer, amar, gozar, sofrer, esperar e muito chorar pra eu entender o que não me foi dito.
Bater os pés no chão com a força do desgosto ou do desejo descontrolado, pra que a Terra, sagrada mãe, me devolvesse impulso e vitalidade. Não sei porque essa mágica me foi escondida, mas hoje sei que na fluidez da minha feminilidade, tenho o taconear, que faz tremer o chão e ainda posso chover minha vida nos caminhos da minha vontade.

3 comentários:

Ronaldo Faria disse...

Lindo, simplesmente lindo...
Beijos. E chore. Chorar faz bem, molha a terra de emoção...

Marla de Queiroz disse...

Completamente fascinada pelo teu texto...Coisa mais linda!
Beijos, querida.

Anônimo disse...

Me lembrei de uns versos de DH Lawrence:

Oh, for the wonder that bubbles into my soul,
I would be a good fountain, a good well-head,
Would blur no whisper, spoil no expression

Em uma tradução muito capenga:
Oh, pelo assombro que borbulha em minha alma
Eu seria uma boa fonte, um bom olho d´água
Não sufocaria sussurros, nem roubaria expressões